segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Presente


É esse seu tempo
bom em enganar relógios;

É essa sua hora
de agora,
e agora,
e agora...

quinta-feira, 22 de março de 2012

Dança noturna

Office Supplies Incorporated
Era tarde demais até para ter sono. A janela, tão pequena, emoldurava o céu como um cartão postal que manda lembranças de um lugar distante, quase impossível. Uma terra sem lua, onde não é permitido uivar. Um terror para os românticos.

"Essa cama emprestada, incapaz de entender teus sonhos", você me disse no primeiro dia. Eu apenas ri da sua preocupação ridícula, mas acabei tendo dificuldade para dormir ali, embora os lençóis fossem meus.

Deito e lembro como se fosse ontem, como se fosse hoje, agora - você parado na frente da praia, os grãos de areia fazendo cócegas nos pés, o vento carregando meu pensamento pra longe. E seus olhos escuros brigando com o dia claro.

Apago a luz para vê-los melhor. 

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Vísceras

Lucas Simões

Peles, pêlos, peitos. Pelas bordas da cama, seu sorriso com hálito de mormaço. (a tarde arde fora da janela como se fosse proibida).

Busco o ar com a língua - respiração boca a boca, pulmões cheios do céu em carne viva. O coração dispara como se quisesse correr para os seus braços.

Meu corpo pulsa as inevitáveis síladas: Eu te amo, te amo, te amo, Numa agradável arritmia.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Feito não para caber

Benedetta Falugi

Sentada assim, meio de lado,
Naquela varanda.
Você e as mãos apoiadas,
Os pés suspensos,
A cabeça inclinada.
Com seu vestido de botões
Demoradamente contados,
Com a pulseira de cinco voltas,
Com o chapéu cor de palha.
Você, que sem notar se espalha,
E avança sobre a grama, a telha, a sala
Até tornar inexplicável.
Você, com o jeito pousado,
Os laços tomados, o calor dilatado,
Infinita dentro dos meus olhos
E das minhas manhãs.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sobre entender

Gabriella Barouch
Escuta o que não te falo
Calar é calor
Já não dizia o velho ditado.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Fuga

Benedetta Falugi
É só abrir a porta e entrar em casa. Mais dentro do que fora, mas ainda fora - posso ouvir pelas buzinas. Eu sei, a rua corre, as pessoas correm.
Meu coração corre pela sala quando lembra como é bom estar solto. Mas eu sei, mais dentro do que fora - embora fora do tempo quando contigo.

Mas ainda dentro.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Sobre aquela Ana

Benedetta Falugi

Era só uma tarde e era só o parque do Museu da República, cheio de crianças na altura dos joelhos e aviões muito acima - ali naquele espaço, céu. Onde só é permitida a entrada de quem sabe vencer a resistência do ar.

Nunca conheci nada mais resistente que o ar.

Olhei para meus pés e por alguns segundos me senti um idiota pelo simples fato de tê-los.

E imaginei você, Ana. E foi engraçado pensar na sua boca mastigando as barrinhas de cereal da Gol. Linhas Aéreas Inteligentes. Não era inteligente pensar em você, na sua boca ou nos teus cabelos que, chutava, deveriam agora estar metidos em algum rabo-de-cavalo mal feito, do modo exato como eu odeio.

Sabe, Ana, você é como essas crianças. Não precisa de pés, ou pode calçá-los sem parecer uma ridícula. E não consigo pensar em nada mais charmoso que isso, Ana. Você caminhando por esse parque com a leveza própria de quem sabe existir à vontade. Até parece que você não foi feita pra essa vida.