quarta-feira, 20 de julho de 2011

Sobre aquela Ana

Benedetta Falugi

Era só uma tarde e era só o parque do Museu da República, cheio de crianças na altura dos joelhos e aviões muito acima - ali naquele espaço, céu. Onde só é permitida a entrada de quem sabe vencer a resistência do ar.

Nunca conheci nada mais resistente que o ar.

Olhei para meus pés e por alguns segundos me senti um idiota pelo simples fato de tê-los.

E imaginei você, Ana. E foi engraçado pensar na sua boca mastigando as barrinhas de cereal da Gol. Linhas Aéreas Inteligentes. Não era inteligente pensar em você, na sua boca ou nos teus cabelos que, chutava, deveriam agora estar metidos em algum rabo-de-cavalo mal feito, do modo exato como eu odeio.

Sabe, Ana, você é como essas crianças. Não precisa de pés, ou pode calçá-los sem parecer uma ridícula. E não consigo pensar em nada mais charmoso que isso, Ana. Você caminhando por esse parque com a leveza própria de quem sabe existir à vontade. Até parece que você não foi feita pra essa vida.